Originalmente,
a ideia de
um livro…

Originalmente, acalentávamos a ideia de produzir um livro apresentando a trajetória do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e os projetos atuais em andamento. Um projeto que, há muito, aguardava sua hora de vir ao mundo. E essa hora parecia haver chegado.

Em fevereiro de 2019, veio-nos “A Pandemia de Covid-19”. Não havia, naquele cenário, condições materiais nem subjetivas que favorecessem nosso empreendimento, em especial, as atividades que demandavam a presença de pessoas na UERJ, uma vez que, como medida sanitária, importantes restrições ao seu acesso foram necessárias.

Ao mesmo tempo, a vida social no mundo da Internet intensificou-se, plataformas virtuais surgiram rapidamente e a disponibilização de áudios e vídeos crescia a cada dia, os eventos virtuais, as reuniões de trabalho, as aulas gravadas ou ao vivo ampliavam-se a passos largos diante dos nossos olhos grudados nas telas dos dispositivos eletrônicos.

Se ninguém sabe do que o passado é feito, uma inquieta incerteza transforma tudo em vestígio, um indício possível, uma suspeita de história com a qual contaminamos a inocência das coisas. Nossa relação com o passado é a apropriação veemente daquilo que sabemos não mais nos pertencer, exigindo uma espécie de acomodação sobre um objeto perdido.”
(NORA, 1993).

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Proj. História. São Paulo, n. 10, p. 7-28, 1993.

Novo foco:
um espaço virtual e destino ao futuro…

Criar meu website
Fazer minha homepage
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada e um barco que veleje
 
[…]
 
Eu quero entrar na rede para contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na Praça Onze
Tem um videopôquer para se jogar

 
GIL, Gilberto. Pela Internet.

GIL, Gilberto. Pela Internet. Rio de Janeiro: Warner Music Brasil. 1997. (Álbum Quanta).

Passada a pandemia, as dores e os horrores que ficaram em muitas lembranças e inúmeros corpos e tendo sempre em conta os recursos que a ciência propiciou, aos poucos retomamos as atividades presenciais na Universidade. Nesse novo cenário incrementado de inovações tecnológicas na Internet, reorientamos o foco dos interesses para a produção de uma página eletrônica que apresentasse a trajetória do INU por meio de documentos e de narrativas, memórias de quem vivenciou e também de quem desenvolve atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão neste espaço da Universidade.

Contando com aprovação do Conselho Departamental do INU e correspondente apoio financeiro, formamos um grupo de trabalho que delineou o escopo operacional do projeto.

Reunindo documentos, buscando literatura, procurando atas de reuniões…

A partir daí, reunimos um conjunto de documentos (Atos Executivos, Deliberações, Resoluções e similares) oriundos da Reitoria e dos Conselhos Superiores da Universidade, tendo como ponto de partida o ano de 1974, quando a, então, Universidade do Estado da Guanabara (UEG) e atual UERJ passou a registrar os diplomas dos formandos do Curso de Graduação em Nutrição do Instituto Annes Dias (INAD).

Também houve investimentos nossos no sentido da aproximação a uma revisão de literatura que, mesmo em sua incompletude, foi suficiente para nos levar ao início dos anos 1900, quando foram criados os primeiros cursos técnicos de dietistas e nutricionistas, entre os quais aquela instituição que deu origem ao atual INU UERJ: a Escola Técnica de Serviço Social Cecy Dodsworth, criada em 1944

Em consulta de caráter inicial, buscamos livros de atas, ofícios e outros documentos do período em que o Curso de Graduação em Nutrição foi conduzido no interior da Faculdade de Enfermagem da UERJ, através do Departamento de Nutrição, criado especificamente para receber o alunado oriundo do INAD. Do pouco que avançamos nesse trilhar, um mundo se abriu em possibilidades a serem exploradas. Se, por um lado, o volume de material a ser trabalhado implica na extrapolação dos limites deste projeto, por outro, fica como potencial a ser considerado em sequências similares a serem realizadas no futuro.

A memória coletiva é um quadro de analogias, e é natural que ela se convença que o grupo permanece, e permaneceu o mesmo, porque ela fixa sua atenção sobre o grupo […]”.
(HALBWACHS, 1990).

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

Entrevistando e
re-visitando memórias…

Por fim, foi conduzida uma série de entrevistas ou de conversas guiadas gravadas a partir de um roteiro previamente delimitado. Vários nomes de docentes, estudantes e nutricionistas foram considerados pelo Grupo de Trabalho como potenciais narradoras e narradores. Não alcançamos todas essas pessoas, por motivos associados aos seus momentos de vida. Entre alguns percalços e incompatibilidades de agendas de participantes diversos, no desenrolar dos trabalhos, outros nomes foram incluídos e, o que seria incialmente um apanhado de 12 entrevistas, levou-nos a 23 participações no final dessa espécie de “trabalho de campo”.

A experiência desse “campo” foi muito sensível aos participantes, afetados pela proposta. As pessoas ficaram mobilizadas, produziram textos memoráveis, preparam-se para as gravações, reviraram suas lembranças, recriaram imagens e cenários.

A lembrança é a sobrevivência do passado. O passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens-lembrança.”
(BOSI, 1979).

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1979.

Nesse movimento, manifestam-se elementos que se apresentam ao mundo como identidades em trânsito entre o que ali há de pessoal, profissional e institucional. Nas palavras de Michel Pollak, a memória é, assim,

[…] um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua construção de si.”
(POLLAK, 1992).

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos, v. 5, n. 10, p. 200-215, 1992

A re-visita a essas memórias é aqui tomada como uma viagem a nós mesmos e ao mundo em que estamos inseridos, mundo que construímos e do qual somos construtores.

Ao se lembrar de algo, alguém se lembra de si.”
(RICOEUR, 2007).

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp, 2007

Muitas linhas… Muitos tempos…
Muitos temas… Muita gente…

Como desenho para ordenamento dessas materialidades e subjetividades na página Memórias INU UERJ na Internet, foram definidos alguns períodos de eventos e um leque de temas tratados.

Contando com aprovação do Conselho Departamental do INU e correspondente apoio financeiro, formamos um grupo de trabalho que delineou o escopo operacional do projeto.

 
[…] o tempo só se torna humano através da narrativa.”
(RICOEUR, 2007)

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora Unicamp, 2007

A partir desse desenho-referência, está organizada a página que foi criada na Internet como representação daquilo que principia. O Projeto Memórias INU UERJ deu seu primeiro passo. Trouxe à luz fragmentos, passagens, pontos, pequenos traços, memórias em documentos e narrativas. Não houve aqui propósito de cunho histórico, em seu sentido estrito, nem perspectiva de desenvolvimento analítico dos fenômenos e eventos indicados. Houve apenas o intuito de reunir registros seguindo alguma organização que permitisse abrir horizontes.

Muita coisa ainda está por ser feita. Mas essa é tarefa para os que, eventualmente, virão a se interessar por temáticas dessa ordem em algum momento do futuro.

Século XIX ao final da década de 1930 |
Os primórdios da Nutrição no Brasil

1930 a 1975 |
Dos primeiros Cursos Técnicos em Nutrição e Dietética até o curso de graduação e Nutrição no Instituto Annes Dias

1975 até a década de 1980 |
Da Graduação em Nutrição na Faculdade de Enfermagem à criação e instalação do Instituto de Nutrição da UERJ

Anos 1980 aos dias atuais |
O Curso de Graduação em Nutrição e reformas curriculares

Anos 1980 aos dias atuais |
Atividades de Extensão

Anos 1980 aos dias atuais |
Movimentos Sociais e Ações Afirmativas no INU e na UERJ

Anos 1990 e 2000 |
Criação de Cursos de Especialização

Anos 2000 em diante |
Criação do programa de Pós-graduação em Alimentação, Nutrição e Saúde e seus Cursos de Mestrado e Doutorado