Professora Dulce Borges Caccavo
APRESENTAÇÃO
Dulce Borges Caccavo é Professora Aposentada do Departamento de Nutrição Social do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Vivenciou o período em que o Curso de Nutrição foi transferido do Instituto Annes Dias para o Departamento de Nutrição da Faculdade de Enfermagem.
Foi Chefe do Departamento de Nutrição, criado para conduzir o Curso de Nutrição nessa Unidade Acadêmica.
Participou ativamente do processo de proposição e criação do Instituto de Nutrição, onde ocupou o cargo de Vice-diretora Pro tempore.
PARTE I
Trajetória de vida. Entrada no curso de Nutrição. Entrada na UERJ.
Meus avós paternos eram do Sul da Itália, região mais pobre, de onde saíram com 8 filhos, fugindo das dificuldades em que se encontravam. Viajaram num navio de imigrantes em 1887. O Brasil estimulava sua vinda para que trabalhassem, substituindo os escravos. Dois filhos, crianças pequenas não resistiram e morreram durante a viagem, pois faltava comida, água e higiene; tiveram o Oceano Atlântico como sepultura.
“Meus avós paternos eram do Sul da Itália, região mais pobre, de onde saíram com 8 filhos, fugindo das dificuldades em que se encontravam. Viajaram num navio de imigrantes em 1887”.
Ao chegarem ao Brasil, foram desembarcados no Rio de Janeiro, fixando residência em uma casa de cômodos no Catete. Ele era Pedreiro. Em 1900, nasceu meu pai. Seis anos depois, meu avô morreu de Febre Amarela no Hospital de Doenças contagiosas do Caju. Meus tios, quatro homens e uma mulher, estavam casados, ajudando minha avó a criar meu pai que não estudou. Com 10 anos, começou como aprendiz de lanterneiro na oficina do irmão.
Minha avó materna era gaúcha, filha de judeus, e meu avô era imigrante português. Moravam em Pelotas onde os filhos nasceram, quatro meninas e um menino. Minha mãe era a mais velha. Foram anos difíceis. Minha mãe nasceu em 1904 e em 1918 a Gripe Espanhola – ou Gripe de 1918 – transformou-se em uma mortal Pandemia do Vírus Influenza, que matou muita gente. Minha mãe teve a Gripe e escapou com sequelas no coração.
Quando minha avó enviuvou, já morava no Rio de Janeiro e foi viver com os filhos na casa de sua irmã mais velha. Minha avó era uma excelente costureira e, muito prendada, fazia trabalhos manuais de tricô e crochê; assim sendo, foi trabalhar como costureira particular de “Dona Chiquinha”, como ela chamava a neta do General Manuel Luís Osório, o Marquês do Herval. Os filhos estudavam e, com ajuda da irmã e da patroa, construiu uma casa no bairro formado nas terras da antiga fazenda da Baronesa do Engenho Novo, que deu nome à rua onde a moradia foi construída, no bairro do Jacaré.
Nasci dia 21 de fevereiro de 1937, em Botafogo, bairro da Zona Sul, no então Distrito Federal, tornado, com a mudança para Brasília em 1960, Estado da Guanabara e, posteriormente, em 1975, Estado do Rio de Janeiro. Meus pais moravam numa casa de avenida na Rua Álvaro Ramos. Minha mãe foi assistida como anteriormente por uma parteira, fui a quarta filha de um casal que vivia com dificuldades financeiras e tinham filhos de 9, 8 e dois anos. A do meio era menina e foi minha segunda mãe quando nossa mãe faleceu, seis anos depois de insuficiência cardíaca. E meu irmão, o primogênito, assumiu o papel de pai quando, sete anos após a morte de nossa mãe. Nosso pai faleceu de um tumor maligno no cérebro. Quando ocorreu o desenlace, morávamos na casa de nossa avó materna na Zona Norte da cidade, no já mencionado bairro Jacaré.
Só fui para a “2-9 Escola República do Peru”, no Méier, com 10 anos, embora já soubesse ler, escrever e dominasse as quatro operações matemáticas corretamente; isso além de um pouco de História e Geografia. Fui aceita e matriculada no segundo ano primário como era chamado. Aprendi, inicialmente, com minha mãe e, posteriormente, com minha irmã e meu irmão mais velho, ambos que só cursaram o Primário, atual Ensino Fundamental. Meu irmão, dois anos mais velho que eu, depois de repetir duas vezes o quinto ano e com 11 anos, pediu a nosso pai para trabalhar na oficina de lanternagem com ele. Aos 15 anos era o melhor lanterneiro de Botafogo onde ficava a oficina.
Quando morreu meu pai, eu tinha 13 anos e só retornei aos estudos com 15 anos, prestando prova de Admissão para o curso Comercial do Colégio Estadual Amaro Cavalcante, no Largo do Machado, Catete. Era um curso Técnico e eu sairia como Contador Gestor ou Guarda-Livros após sete anos. Embora gostasse de estudar, eu não tinha mais recursos. Meu irmão mais velho casara e o outro irmão que me ajudava ia se casar. Estudei até os dezessete anos, mas tive que abandonar os estudos, sem concluir o último ano, para trabalhar como costureira.
Aos dezoito anos me casei. Fui mãe aos 21, 22 e 24 anos. Durante dezesseis anos fui Dona de Casa, Gestora do Lar, Mãe, Costureira e Artesã, além de orientar, encaminhar e auxiliar nos estudos a meus filhos. Nesse tempo, eu só pensava em retornar aos estudos e fazia o Curso Supletivo à noite. Aos 34 anos, fiz concurso para o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) sendo aprovada. Enquanto aguardava me chamarem, fiz um concurso para bolsa de estudos num curso novo de Vestibular chamado ADN. Ganhei 80% de Bolsa, eu pagaria 20% com meus recursos e teria garantidas as apostilas.
Em resumo, fiz o vestibular para Nutrição. Eram setenta vagas para Federação das Escolas Isoladas do Estado da Guanabara (FEFIEG), que posteriormente passou a Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ) e hoje é a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Minha classificação: sexto lugar. Comecei a estudar e me chamaram para o TRT, mas preferi continuar meus estudos. Não me arrependi, pois foi como realizar um sonho adormecido: com muito sacrifício, mas também muita felicidade.
Em dezembro de 1976, com 39 anos, recebi meu diploma de Nutricionista.
A filha de 18 anos era acadêmica de Educação Física na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O filho de 17 anos fazia Vestibular e escolhera Engenharia. E a filha de 15 anos preparava-se para o Vestibular de Odontologia. Hoje, os dois mais velhos, com 65 e 64 anos, estão aposentados e a mais nova, com 62 anos, formada em Direito, ainda trabalha. Tenho três netos: uma de 34 anos, outra de 30 anos, um neto de 26 anos e uma bisneta nascida a 29 de julho de 2022, filha da primeira neta.
Vida difícil, mas unidos em família. Respeito aos mais velhos. Criança obedecia ao olhar do pai. Cinto de couro pendurado a entrada da casa lembrava que se saíssemos da linha, com malcriação ou briga entre irmãos, ele ia parar na mão do pai que, ao chegar do trabalho, encontrava os filhos rebeldes sentados no castigo esperando para levar umas “correadas”. Em seguida, o pai mandava lavar o rosto e sentar-se à mesa para jantar. Assumir os erros e o castigo, enxugar as lágrimas sem revolta, era o aprendizado para ser honesto e não chegar em casa chorando, porque apanhou na briga de rua, um aprendizado para não sermos covardes. Ao mesmo tempo, tínhamos o amor paterno, materno, fraterno e filial, sempre demonstrado por toda a família.
Como nascida em 1937, vivi em diferentes épocas da política brasileira e mundial.
Pouco me lembro até fazer cinco anos. Tenho recordação de algumas passagens. Ouvi dizerem que meu pai não ia para a guerra porque tinha quatro filhos menores.
Dessa época, trago a lembrança da velha casa em uma avenida (condomínio da época) onde morávamos – na Rua dos Arcos, localizada no Centro da cidade – até mudarmos para a casa de minha avó materna no bairro Jacaré.
O racionamento de gêneros alimentícios de acordo com o número de pessoas da família, principalmente a carne; tínhamos um cartão com o dia da semana que deveríamos comprar e o quanto poderíamos comprar; o pão era preto e tomávamos café preto com açúcar mascavo – eu detestava café. Meu pai fazia gemada (gema de ovo batida com açúcar) e dizia que eu só comeria se tomasse todo o café. Minha avó criava galinhas e, quando a minha cantava (elas cantam quando põem os ovos), eu pegava o meu, limpava na roupa, fazia um furinho e chupava, ainda quentinho.
As boas lembranças dessa época. As músicas que aos domingos ouvíamos no rádio Capelinha de minha avó: era como se estivéssemos na Itália ou na Áustria. Óperas e valsas. Ainda aos domingos, as macarronadas feitas de massa caseira e as pizzas de aliche, que ganhávamos de um tio que recebia da Itália, com tomate. Parecia um grande e macio pão circular. À tarde, tomávamos mate queimado, comíamos pão caseiro com bacon em fatias comprado em pedaços no armazém. Sinto ainda o cheiro do mate verde queimando com uma pedra de carvão em brasa num bule de ágata, onde minha avó, despejava água fervendo, retirada de um depósito com uma torneirinha no fogão à lenha.
Caçávamos rã no brejo. Escondidos, segurando um barbante amarrado à varinha de bambu que sustentava uma bacia: era só puxar o barbante e pegar as rolinhas, atraídas pelo milho quebrado colocado embaixo dela. Criávamos pombos em um pombal feito de caixotes presos a um “caibro” bem alto e comíamos os filhotes (borrachudos) com arroz. Das árvores frutíferas plantadas no quintal, comíamos manga, abacate, goiaba, amora, jamelão, banana, mamão e laranja. Tomávamos sucos de limão e caldo da cana, vegetais plantados no quintal. Da horta, comíamos taioba, bertalha, couve, tomate, chuchu, ervilha em vagem e os temperos: salsa, cebolinha, coentro.
Quando doentes, dependendo do que sentíamos, vovó fazia para resfriado, xarope com folhas de: guaco, laranja, limão, coração do cacho de banana, açúcar mascavo; para diarreia chá com folhas de goiaba; para vermes, mastigávamos semente de abóbora ou caroço de mamão.
E assim, cresci nos períodos difíceis da guerra, como muitas crianças: magrinha e desnutrida. Descalça, usando a roupa que não cabia mais no meu irmão, aprendendo a ler, escrever, contar, além de Geografia nos mapas guardados com cuidado numa estante cheia de livros que passavam dos irmãos mais velhos para os mais novos, assim como, calçados e roupas.
Eu estudava no Catete e lembro-me de Getúlio Vargas e do grande Maestro Heitor Villa-Lobos – autor da música “Canto do Pajé” que se tornou um Hino para a juventude que estudava canto no currículo escolar. Os ensaios com o autor reuniam os alunos das Escolas Públicas para as festividades no Ministério da Educação, com a presença do Presidente Getúlio Vargas. Os eventos tinham lugar no Teatro Municipal para o público, que entrava de graça, ou no Campo do Fluminense Futebol Clube, quando dos Jogos Olímpicos dos Colégios do Ensino Secundário.
Com 18 anos, casei-me com um amigo de meu irmão. Naquele tempo, quem não se casava, ficava para titia. Eu fazia cálculos e aproveitava tudo. No início de meu casamento e até minha caçula fazer três anos, eu ainda morava no Jacaré; depois, fui morar em Copacabana, num apartamento do meu sogro. Na minha experiência como Dona de Casa, usava dos conhecimentos apreendidos no Curso Comercial e no livro Dona Benta, que ganhara no casamento. Quantos éramos, do que gostávamos, o que era bom para a saúde, quanto tínhamos em dinheiro para comprar e como não desperdiçar alimentos.
Pela manhã, tínhamos café com leite, pão, com manteiga feita da nata do leite in natura, vendido em garrafas, pelo leiteiro (deixávamos a garrafa lavada no portão e ele trocava por uma cheia com tampinha de alumínio). No almoço e no jantar havia variedade: feijão (preto, branco, manteiga ou cavalo), lentilha, ervilha, grão de bico; Carne de segunda, dobradinha, coração, rim, miolo, mocotó (comprados no tripeiro); Ovos, e galinha (comprada no matadouro) escolhíamos e esperávamos matar, sendo seu sangue, colocado num vidro que trazíamos de casa, aproveitado para fazer o molho pardo; Legumes, verduras e frutas: banana, laranja, tangerina e mamão. (comprados numa chácara, na feira ou na quitanda). Tudo dependia do preço. O lema: “Nada se perde, tudo se transforma!”.
Eu me casara em 1955 e, por falta de tempo e de convivência, pouco ou nada sabia de política. Só pensava em criar meus filhos e retornar aos estudos. E o tempo passou.
Certo dia, já em Copacabana, como sempre fazíamos, ao entardecer, fomos ao mercado para as compras do mês. Ao sair do prédio em que morávamos, havia algumas pessoas na portaria conversando. Nós íamos sempre com as crianças, pois além de morarmos no 8º andar, não tínhamos com quem deixá-los – a mais velha tinha seis anos.
Nunca me esqueci que uma das senhoras olhou para nós e começou a rir… nós levávamos sempre o carrinho de compras. Ao chegarmos ao mercado, parecia que por ali havia passado um furacão. Cereais, que eram ensacados, estavam espalhados pelo chão, os sacos rasgados, coberto por grãos, farinhas, açúcar. Garrafas quebradas, frutas amassadas e prateleiras vazias. Uma tristeza. À porta do mercado, meio fechada, um funcionário comunicava que estavam fechando sem data de retorno. Era 31 de março de 1964. Quando retornamos para casa, ouvimos as notícias através do rádio. Levou tempo para recuperar-me daquele incidente e do que veio depois.
Eu não completara o Curso Comercial, equivalente Ginasial e Científico, ou ao Primeiro e Segundo Graus (ou o que hoje é denominado Ensino Fundamental e Ensino Médio). Com o Supletivo, obtive os documentos necessários para o ingresso, após o vestibular, na Faculdade tão sonhada.
Para ter mais base no vestibular, ingressei no concurso de uma bolsa de estudos para um Curso de Pré-Vestibular: o ADN. Ganhei 80% de bolsa. Durante todo esse período estudava à noite. Continuei os meus estudos com mais dificuldades ainda, sempre à noite, após o pai chegar do trabalho. Ele era funcionário público e concluía o trabalho de final do Curso de Serviço Social. De 24 horas, eu dormia três horas. Tinha que estudar e fazer os trabalhos dos cursos, enquanto eles dormiam. Deitava-me às duas horas e me levantava às cinco horas. Fazia os serviços da casa durante o dia com eles, ou enquanto iam a escola.
Até hoje, não sei como consegui. Por isso, creio numa Inteligência Única e Maior que Nos Criou e Nos Guia, sem interferir nas nossas Escolhas.
Por sermos da família de um Servidor Federal, éramos atendidos no ambulatório do Hospital dos Servidores do Estado (HSE), atual Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE).
Meu filho com seis anos fora acometido de peritonite. O pediatra que acompanhava o crescimento e desenvolvimento deles no Serviço Ambulatorial Médico dera o diagnóstico de infecção intestinal numa crise de apendicite, prescrevendo medicamento para enjoo ao menino que sentia dor na barriga e solicitando retorno em dois dias para uma revisão. À noite ele vomitou parecendo pó de café. Corremos com ele para o pronto socorro. O médico do plantão, depois de me ouvir, pegou uma caneta com tampa e passou-a levemente na barriguinha dele e disse: “É apendicite e, provavelmente, peritonite; precisa ser operado imediatamente!”. Ele foi levado pela ambulância (chamada pelo médico de plantão da Unidade Municipal de Botafogo, que o atendeu) para o Hospital Miguel Couto, onde foi submetido a cirurgia de urgência.
Antes da cirurgia, enquanto o preparavam para ser operado, o médico veio falar comigo. Disse que era grave, que o peritônio estava tomado pela inflamação. Eu perguntei: “Há perigo de morte?”. Eram seis e meia da manhã do dia de Cosme e Damião. Ele olhou para a rua, chovia e as crianças pobres de uma favela próxima já estavam correndo para pegar doce. Ele me olhou e disse: “Perigo há até em atravessar a rua correndo.”
A internação foi feita numa enfermaria de mulheres, pois a de crianças não tinha vaga. O Hospital estava lotado, atendendo muitas urgências que necessitavam de internação e ocorriam óbitos em diferentes horários. Tinham que acender as luzes e passavam com os “pacotes” na frente de sua cama. Meu filho ficou entre a vida e a morte por quase uma semana. Quando parecia estar se recuperando, ocorreu hematêmese por duas vezes. Fiquei acompanhando, sentada a seu lado por todo o tempo e colocaram um biombo a nossa volta; muitos chegavam e perguntavam o que havia acontecido. Com o biombo, as transfusões e o tratamento alimentar sendo aos poucos introduzidos, ele foi melhorando. Um mês depois, ele teve alta provisória com recomendação de dieta alimentar pastosa, rica em proteína e ferro, além da não ingesta de alimentos ácidos. Ele finalmente almoçou creme de espinafre com purê de batatas.
Nunca esqueci que o amor pela profissão e pelo paciente pode realizar milagres e Dr. Fernando Barroso amava muito o que fazia e a quem atendia. Durante todo o tempo da internação, ele fazia três visitas diárias a meu filho mesmo nos dias em que não estava no plantão.
A partir dos acontecimentos relatados e das dietas recomendadas, despertou-se em mim a visão de um profissional que cuidasse da alimentação humana, segundo a sequência de prevenção, tratamento, equilíbrio e, se possível, a cura de certas doenças através dos alimentos. Isso além de criar bons hábitos alimentares, mas sobretudo com muito AMOR ao que faz e a quem faz.
Fiz o vestibular com a intenção de me dedicar ao estudo da Nutrição, sem saber como era vasto e profundo todo o conteúdo da matéria. Passei primeiro pelo Centro Biomédico. Lá éramos todos acadêmicos universitários, sem distinção de escolhas. Os Cursos eram diurnos e de horário Integral. Foi um período bom. Não sentia pressão política de colegas e todos se ajudavam. O método de ensino consistia em formar grupos de cinco estudantes por área de estudo, que eram responsáveis por trabalhos escritos e apresentações orais aos professores e colegas das turmas em um enorme auditório com a presença de todos que coubessem e quisessem assistir, independente do curso. A única exigência era ser da Área de Saúde.
Os professores (Médicos, Biólogos, Bioquímicos, Hematologistas, Patologistas, Especialistas em Saúde Pública, Estatísticos) davam-nos todo o apoio, tratavam os alunos com respeito, dando incentivo a nossa profissão. Um magnífico aprendizado.
Foi na Escola Central de Nutrição que pude sentir a pressão e tomar conhecimento da existência de alunos militares, disfarçados, que denunciavam qualquer movimento estranho fora das ordens do Diretor, um médico nutrólogo reformado do Exército. Os professores eram médicos nutrólogos em maioria. Algumas médicas nutrólogas também nos incentivavam. E as poucas professoras nutricionistas não nos davam segurança e seguiam as ordens, com exceção de uma Docente humilde e atenciosa, responsável pela aula prática de Alimentação Infantil, a querida Professora Maria da Conceição Carvalho.
Durante o período na Escola Central de Nutrição, os colegas todos eram mais jovens do que eu e talvez por isso, ou porque eram impetuosos com risco de serem penalizados, vendo-me mais equilibrada indicaram meu nome para representá-los. Eu é quem fazia as reinvindicações aos professores. Como era a rotina, devem ter verificado minha vida pessoal e, sendo aprovada para a função de acordo com o meu procedimento, designaram-me oficialmente através da Portaria de N° 030 de 19 de fevereiro de 1976 para representar o Corpo Discente da FEFIERJ junto ao colegiado da COPERTIDE. Esse órgão era composto pelos Decanos, ou seja, os mais antigos membros da congregação de professores da Universidade, que eram os responsáveis pela contratação de novos professores, assim como por representar os interesses da Universidade, regularizando os cursos e exames da instituição. Eu deveria verificar quais as expectativas dos alunos e fazer reivindicações junto a esse órgão.
Nos três anos seguintes tive aulas com professores mais distantes, mais preocupados com a própria vida, mais calados ou mais autoritários. O curso era distribuído em matérias “1” e “2” com os mesmos professores. Exemplo: Dietoterapia 1 (no primeiro semestre) e Dietoterapia 2 (no segundo semestre). Com a função de monitora, permaneci por dois anos ao lado daqueles que eram, ao mesmo tempo, “alunos e colegas”. Deveríamos aprender não somente a matéria, mas principalmente ter a responsabilidade de sermos bons profissionais, respeitando a vida do próximo e a própria vida.
O período de estágio foi muito enriquecedor em novas experiências, pois convivi com nutricionistas das unidades de saúde que nos recebiam, além de médicos, enfermeiras, funcionários de diferentes funções, inclusive da administração hospitalar, e principalmente com os “pacientes” das unidades hospitalares e ambulatoriais.
Da mesma forma aprendi muito sobre administração de ensino nos colegiados e na administração da área da educação universitária (créditos, programas, currículos, material, espaço físico, carga horária educacional). Por tudo isso, considerei o último ano como o mais difícil no aprendizado, mas também o mais completo. E assim fomos até os estágios onde “supervisores” eram profissionais e não professores; eram os funcionários das instituições que ofereciam os campos de estágio. Escolas públicas, laboratórios, hospitais e empresas que serviam alimentação a seus trabalhadores. Notei uma maior deficiência na área materno-infantil, pois nem toda unidade hospitalar tinha em sua estrutura um lactário ou um Ambulatório de Materno-Infantil.
Foi nos Estágios onde “supervisores” eram profissionais e não professores; eram os funcionários das instituições que ofereciam os campos de estágio: Escolas públicas, laboratórios, hospitais e empresas que serviam alimentação a seus trabalhadores que senti como era imensa a responsabilidade de promover bem-estar social e salvar vidas.
Em 17 de dezembro de 1976 recebemos o grau de Nutricionista com a solenidade da “Formatura”. E como dizia o professor de Tecnologia de Alimentos, Guilherme Franco: “Todos saíram com emprego inicial”.
Os profissionais Nutricionistas eram valorizados e requisitados. Tal fato ocorria pelo crescimento e importância no controle e acompanhamento da saúde da população, consequentemente, ampliando a demanda e maior oferta de vagas dos cursos universitários de Nutrição, na década de 1970.
Por essa época, fiz um balanço de minha vida e vi que não vivenciara durante todo tempo coisas que amava: Música, Arte, Literatura. Não escrevera nenhuma Poesia, nem mesmo lera meus autores favoritos: Gibran Khalil Gibran, Cecília Meirelles, Adélia Prado, Clarice Lispector, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Antoine de Saint-Exupéry. Não ia ao Teatro. Não conhecia as músicas da época. As últimas canções de que me lembrava eram aquelas dos Festivais de Música Popular Brasileira. Mas recuperei, aos poucos, o que eu mais gostava: Escrever Poesia e Livros de Contos em Poesias.
Reuni a Família para Comemorar a minha volta ao Lar. Queria descansar um pouco e me refazer após tantas emoções.
PARTE II
O curso de Nutrição na Faculdade de Enfermagem e a criação do Instituto de Nutrição da UERJ
Passadas as Festas de Final de Ano, pensei em programar um período de descanso na praia. Eu morava na Rua Hilário de Gouveia, Copacabana, e a praia ficava a dois quarteirões. Assim fizemos meus filhos, os colegas deles, minhas amigas, mães dos colegas e conversamos muito. Circularam ali ideias de mulheres que não tinham curso superior e que estavam interessadas em fazê-lo e das demais que queriam melhorar de vida, pois cansaram de depender do marido. E, se eu conseguira, elas também conseguiriam.
Certo dia, recebi um telefonema do hospital em que fizera estágio como Bolsista Remunerada. Eu desenvolvera dois projetos de setores que não existiam no Hospital. O primeiro relacionado ao Lactário, junto a Enfermaria de crianças, cujo a atendimento englobava de bebês a crianças de cinco anos de idade. O segundo relacionado ao ambulatório da nutricionista com atendimento da Nutrição mais voltado para anamnese, cálculo de dieta e orientação, quando necessária, ou educação nutricional. Eu ficara sozinha sem nutricionista no Hospital (uma estava de licença médica e a outra de licença prêmio de seis meses).
Usava todo o meu conhecimento, teórico-prático e estudava em livros da biblioteca da faculdade ou comprava livros mais atualizados que me esclarecessem alguma dúvida que pudesse ter; além disso, buscava os professores disponíveis para orientação. Precisei fazer carimbo de estagiária. Deixava os cardápios da semana prontos e uma nutricionista (funcionária do Estado e lotada na Secretaria Estadual de Saúde, lotada no nível central deste órgão) vinha uma vez por mês para assinar, caso concordasse. Os médicos pensavam que eu era funcionária, pois eu estava com 40 anos. Fui ao hospital, no Humaitá, e quem me recebeu foi o Diretor, que me perguntou se já estava trabalhando e ofereceu uma vaga, para início em abril. Disse-me que assim que começassem a contratar ele me comunicaria.
Fui ao hospital, no Humaitá, e quem me recebeu foi o Diretor, que me perguntou se já estava trabalhando e ofereceu uma vaga, para início em abril. Disse-me que assim que começassem a contratar ele me comunicaria.
Estávamos em início de janeiro e, qual não foi minha surpresa, quando recebi uma ligação telefônica da Professora Maria da Conceição Carvalho, solicitando que fosse falar com ela para conversarmos sobre uma vaga de substituição de professor auxiliar no Departamento de Nutrição.
Surpreendeu-me o endereço. Faculdade de Enfermagem da UERJ, sétimo andar. E, após me informar o que ocorrera, o porquê de o Curso de Nutrição lá se encontrar, fiz uma entrevista com três professores do Departamento de Nutrição. Consideraram o que eu poderia assumir, pediram que levasse meu currículo para a Diretora da Faculdade de Enfermagem, que iria marcar uma reunião com o Conselho Departamental, conversaria comigo e daria seu parecer para a contratação de 10 horas semanais de trabalho. Compunham o Departamento de Nutrição o professor Carlos Alberto Felício e as professoras Dalva [Rachid] e Maria da Conceição Carvalho, esta última como Chefe de Departamento.
Após avaliação do Currículo (e respondidas as questões que, face a situação política, assim deduzi, poderiam impedir o meu contrato), a Diretora Alaíde Bittencourt Duarte, conversou em particular comigo e me pôs inteirada do que havia ocorrido e o motivo do curso de Nutrição estar localizado na Faculdade de Enfermagem. Com a Fusão do Estado da Guanabara e o Estado do Rio de Janeiro, o curso de Nutrição em nível superior do Instituto de Nutrição Annes Dias (INAD) teria que pertencer a uma Universidade Estadual. Nesse processo, porém, a UERJ não absorveria as funcionárias do INAD, que lá continuariam prestando atendimento de Nutrição como servidoras do Município do Rio de Janeiro. Um grupo do INAD preferia que o curso de Nutrição fosse extinto a mudar-se para a Faculdade de Enfermagem, pois esta era a decisão do Diretor do Centro Biomédico da UERJ.
Destaco nesse contexto a coragem da nutricionista e professora da Faculdade de Enfermagem Maria da Conceição Carvalho ao defender a continuidade do curso de Nutrição, daí por diante, nas dependências da UERJ. Conclusão: se hoje existe um Curso de Nutrição da UERJ deve-se, em primeiro lugar, à CORAGEM da Professora Maria da Conceição Carvalho, lutando bravamente e contrariando a decisão das colegas e amigas do INAD.
Destaco nesse contexto a coragem da nutricionista e professora da Faculdade de Enfermagem Maria da Conceição Carvalho ao defender a continuidade do curso de Nutrição, daí por diante, nas dependências da UERJ. Conclusão: se hoje existe um Curso de Nutrição da UERJ deve-se, em primeiro lugar, à CORAGEM da Professora Maria da Conceição Carvalho, lutando bravamente e contrariando a decisão das colegas e amigas do INAD.
Não se pode deixar de enfatizar a anuência da Faculdade de Enfermagem, na pessoa da sua Diretora, Professora Enfermeira Alaíde Bittencourt Duarte, que aceitou a indicação do Diretor do Centro Biomédico e, mesmo abrindo mão de uma parte da área física e recurso de pessoal e material de que dispunha, recebeu o Curso de Nutrição na UERJ.
A própria Universidade também estava se adaptando à nova posição derivada da Fusão. Assumia a expectativa de substituir a Universidade do Distrito Federal, que já passara de Universidade do Estado da Guanabara (UEG) para UERJ.
E assim ingressei como Professora Auxiliar e carga horária semanal de 10 horas. Fui responsável pela supervisão dos Estágios de Nutrição Clínica (Hospital da Aeronáutica no Campo dos Afonsos, onde as nutricionistas responsáveis pelo serviço eram duas e quase não as encontrava), Nutrição Materno-infantil (Maternidade Pro Matre); Administração em Nutrição (VARIG com a nutricionista Cleonice, a princípio, no Aeroporto Santos Dumont e, posteriormente, no Aeroporto do Galeão, que estava em construção e que hoje é denominado Aeroporto Internacional Tom Jobim; Estaleiro Mauá com a nutricionista Haydée Serrão Lanzillotti).
Durante todo esse período, demorava mais de duas horas só, para chegar ao Campo dos Afonsos, pois ia de ônibus fazendo baldeação na estação do Castelo. No Estágio do Galeão a dificuldade não era só ir e voltar ao local, era também o como se locomover já que toda área estava sob a movimentação de caminhões e intransitável (barro e molhado), necessitando para caminhar de galochas de borracha até os joelhos. Os estagiários iam num transporte especial com a nutricionista responsável e gostavam do que lá aprendiam. Realmente era uma ocasião de criatividade para os estagiários que podiam, com a teoria aplicada à prática, dar impressões e sugestões.
Na Maternidade Pro Matre pouco se podia fazer e foi aconselhado outro campo, talvez em ambulatórios de Pediatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ. Conforme iam aumentando as necessidades e as atividades no Departamento de Nutrição ou algum docente que participava da equipe comunicava sua saída, contratava-se outra pessoa da mesma forma. As dificuldades aumentavam. Com muita luta conseguimos trazer o Estágio em Nutrição Clínica para o HUPE e incluir o Estágio Materno-infantil em Ambulatório.
O Estágio de Administração em Nutrição foi para a Divisão Central de Alimentos, com a Nutricionista Cleaci na orientação.
O Laboratório de Dietética ficava no HUPE. As aulas ocorriam lá e o professor da matéria iria se afastar; recebi mais quatro horas semanais e assim foi por algum tempo: conforme havia necessidade de professor ou era aumentada a minha carga horária ou se contratava outro docente.
Em fevereiro de 1977, contava com 10 horas semanais destinadas à Supervisão de Estágio de Nutrição Clínica, Estágio Materno-infantil e Estágio em Administração, além de ministrar as disciplinas Prática de Técnica de Dietética, Patologia da Nutrição e Avaliação Nutricional.
A seguir, apresento algumas das funções que exerci desde o meu ingresso no Departamento de Nutrição da Faculdade de Enfermagem.
Em agosto desse mesmo ano passei a representar o Departamento de Nutrição como “Membro de Comissão” que avaliaria “Trabalho Docente” apresentado pelo Departamentos de Fundamentos de Enfermagem. Ao início de cada período letivo era distribuído um calendário em que se estabelecia Departamento, mês, dia, hora e local para apresentação de um trabalho a livre escolha pelos docentes. A Direção da Enfermagem, convocava um representante de cada Departamento para avaliar, segundo critério estabelecido, os trabalhos entregues com antecedência à Presidente da Banca de Avaliação. A Comissão estudava o assunto e considerava a Importância relacionada a vários itens, desde a relevância do conteúdo até a apresentação, incluindo tempo e recursos utilizados.
Em novembro de 1977, passei à condição de Chefe do Departamento de Nutrição. Em dezembro de 1977 recebi aumento de quatro horas semanais, vigorando de 01/08/77 a 28/02/78. No mês de outubro de 1978, representei a Nutrição da UERJ no evento Criação do CFN e CRN – Conselhos Federal e Regional de Nutricionistas em Brasília. Nos anos de 1978 a 1980, representei a Nutrição da UERJ no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). A partir de 1979, minha carga horária ficou determinada em 40 horas semanais, enquanto houvesse a necessidade.
Aos 30 de outubro de 1980 fui designada Chefe do Departamento de Nutrição da Faculdade de Enfermagem da Uerj.
Em 26 de janeiro de 1983, fui convocada para participar de reunião com a Coordenação do Grupo de Trabalho Universitário Campos Avançado de Parintins. Reunião com as Comunidades Ribeirinhas, orientação aos Estagiários, Relatórios e Planejamento de Ações.
Data de 22 de abril de 1981 minha designação para Presidente Comissão do “Estudo Preliminar Para Independência Administrativa e Didático-Pedagógica do Curso de Nutricionista” da UERJ.
Data de 22 de abril de 1981 minha designação para Presidente Comissão do “Estudo Preliminar Para Independência Administrativa e Didático-Pedagógica do Curso de Nutricionista” da UERJ.
Participávamos com os alunos da Feira da Providência na Barra da Tijuca, com avaliação nutricional e distribuição de material com informações sobre alimentação e saúde aos presentes no evento. Do mesmo modo, marcamos presença na UERJ SEM MUROS com alunos de classificados pelas notas das Disciplinas Técnica Dietética, Avaliação Nutricional e Materno-infantil.
Houve com constância a necessidade de buscar novos campos de Estágios adequados ao objetivo e mais bem localizados para os próprios alunos, com a exigência de constituir uma boa prática. Quanto as aulas, faltava aos professores recursos adequados e material necessário para o ensino, além de estabelecer carga horária para planejamento e preparo das aulas. Estes eram feitos fora dos horários e com recursos próprios. Não tínhamos, auxílio alimentação ou transporte. Usávamos nossos recursos, inclusive financeiros. Preparávamos as provas em casa usando máquina de datilografar (quem tinha e, no meu caso, a máquina era antiga, mas dava conta), pois ainda não usávamos a nova Tecnologia. Depois, fazíamos a cópia, pagando em lojas adequadas ou em mimeógrafo ou entrando na fila da Faculdade. Eram quatro Departamentos na Faculdade de Enfermagem, encaminhando material para fazer cópias em número suficiente e deixar as provas preparadas para a data prevista com a matéria oferecida no período antecedente; além disso, era necessário ter cópias arquivadas em nossas pastas no Departamento de Nutrição.
A Área do Departamento de Nutrição não comportava muito mais do que duas mesas, quatro cadeiras, um armário em que era guardado todo material e gavetas, cada qual com sua chave. Em dia de Reunião no Departamento, pedíamos cadeiras emprestadas e trazíamos algo para lanchar, já que demorávamos e era a única oportunidade de conversar sobre nossa situação.
Quando passei para 40 horas semanais, além do que já fazia, fui novamente Chefe de Departamento e participava das Reuniões de Conselho Departamental. Sempre tive bom relacionamento com as professoras da Enfermagem. Fazia Cursos de Pós-graduação à noite na UERJ com algumas delas.
Nunca deixei de estudar. Não consegui defender tese de mestrado por falta de orientador e de tempo. Ultrapassei o prazo da entrega. Eu era a única, à época, que não estava liberada para o Mestrado. Recebi um Diploma de Curso de Especialização em Administração Universitária.
Comecei a fazer pedidos para atender demandas do nosso Departamento e solicitei por escrito a ampliação de espaço. A solicitação foi apresentada durante a Reunião do Conselho e todos concordaram. Agora tínhamos mais professores: éramos seis e o Departamento já não comportava todos.
Como ficava mais tempo na Faculdade, a exceção dos dias de Supervisão de Estágios, descia para lanchar na Cantina existente no quinto andar do prédio. Na parte da tarde, o movimento era menor, pois os alunos já haviam almoçado e normalmente era a hora de alguns professores aproveitarem para conversar sobre os problemas comuns a todos.
Certa ocasião, encontrei com Professor Charley Fayal de Lyra, Diretor da Faculdade de Odontologia. Havíamos participado de um Simpósio oferecido na Secretária Estadual de Saúde, no Centro da Cidade. Na ocasião ele perguntou-me sobre a situação da Nutrição e falei-lhe ligeiramente, pois não achei o local apropriado e teríamos pouco tempo de intervalo.
Já nessa ocasião em que nos encontramos na Cantina do quinto andar, pudemos conversar enquanto preparavam o lanche. Surpreendeu-me como ele sabia da nossa situação e achava que merecíamos ter uma Unidade Acadêmica só nossa.
Apresentou a sugestão – fazendo mesmo uma promessa – de transferir o Curso de Nutrição, levando-o das dependências da Faculdade de Enfermagem para o Pavilhão João Lira Filho como INSTITUTO DE NUTRIÇÃO DA UERJ.
Apresentou a sugestão – fazendo mesmo uma promessa – de transferir o Curso de Nutrição, levando-o das dependências da Faculdade de Enfermagem para o Pavilhão João Lira Filho como INSTITUTO DE NUTRIÇÃO DA UERJ.
Assim começou uma conversa em que fui me inteirando cada vez mais de seus objetivos. Ele era um professor competente que já assumira vários cargos e trazia significativos títulos ao longo de sua vida. Iria candidatar-se a Reitor com imensas possibilidades de vencer e planejava sua gestão com bases sólidas de apoio.
Toda vez que nos encontrávamos na cantina ele perguntava das nossas dificuldades e eu ia aos poucos dissertando sobre o assunto. Finalmente, deu-se o início à campanha para candidatura do Reitor da UERJ. A confiança em sua vitória, eleito Reitor, levou os professores de Nutrição, Enfermagem e Odontologia a fazerem campanha com ele. Conversamos com nossos alunos e eles, como sempre acontecia, uniram-se aos alunos dos cursos das outras duas Faculdades instaladas naquele prédio e aos demais eleitores da UERJ.
Acredito que todos participamos da campanha e assim Charley Fayal de Lira, Professor e Diretor da Faculdade de Odontologia, foi eleito Reitor no quadriênio de 1984 a 1988, dando início a nossa independência, e posterior mudança para o Bloco D do 12° andar do Pavilhão João Lira Filho no Campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em outubro de 1984. Ele cumpriu a promessa feita a mim, numa tarde enquanto lanchávamos na Cantina do quinto andar, na Boulevard 28 de Setembro, 157, Vila Isabel, Rio de Janeiro.
Quando solicitou minha presença na Reitoria para entregar-me a designação do maior cargo que teria na vida, relatei em pormenores tudo o que acontecera à Professora Conceição com a vinda do Curso para a Enfermagem, justificando minha recusa. Reconhecendo sua coragem e o meu eterno agradecimento à Professora Maria da Conceição Carvalho por tudo que enfrentara e pelo amor à Nutrição, designou-a para o cargo em comissão de Diretor pro tempore do Instituto de Nutrição da UERJ. E assim ocorrendo, eu Professora Dulce Borges Caccavo aceitei ser designada para o cargo em comissão de Vice-diretor pro tempore pela Portaria número 663/84 de 26 de novembro de 1984.
Quando solicitou minha presença na Reitoria para entregar-me a designação do maior cargo que teria na vida, relatei em pormenores tudo o que acontecera à Professora Conceição com a vinda do Curso para a Enfermagem, justificando minha recusa. Reconhecendo sua coragem e o meu eterno agradecimento à Professora Maria da Conceição Carvalho por tudo que enfrentara e pelo amor à Nutrição, designou-a para o cargo em comissão de Diretor pro tempore do Instituto de Nutrição da UERJ. E assim ocorrendo, eu Professora Dulce Borges Caccavo aceitei ser designada para o cargo em comissão de Vice-diretor pro tempore pela Portaria número 663/84 de 26 de novembro de 1984.
Palavras Finais
Gostaria registrar meus agradecimentos aos Professores e Amigos, aos servidores, assim como aos Estudantes dos Cursos de Nutrição e de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem pela união na luta empreendida para nossa independência.
Quero também deixar meu eterno e infinito agradecimento in memoriam à querida Professora Maria da Conceição Carvalho, a primeira a semear este imenso campo de conhecimentos denominado Instituto de Nutrição da UERJ. A um professor de palavra, que cumpriu uma promessa, Charley Fayal de Lyra Reitor da UERJ de 1984 a 1988.
Destaco ainda gratidão à Diretora da Faculdade de Enfermagem, Professora Alaide Bittencourt Duarte e à Professora Terezinha Nobrega, Coordenadora do Curso, aos Professores do Departamento de Nutrição, ao Nutricionista e Professor Carlos Alberto Felício e a todos que vieram, aos poucos, formando o arcabouço em nossa construção, que se esforçavam e carregavam parte do material na continuidade da obra.
Aos colegas de profissão que nos ajudaram de alguma forma na formação de novos Nutricionistas, auxiliando quando convocados, com cimento, areia e pinceis e tinta: Diretoras de Faculdades, Diretora da Associação de Nutricionistas, Presidente do CRN; Presidente do Sindicato de Nutricionistas, Nutricionistas do HUPE, da VARIG, do Estaleiro Mauá, das diferentes Unidades Hospitalares, da Extinta Divisão Central de Alimentos, profissionais da Área de Saúde do Piquet Carneiro, da FIOCRUZ, das Escolas em que fizemos pesquisa ao lado da professora Haydée, dos Projetos Parintins e Ilha Grande. E a vocês, queridos ex-alunos, toda a minha imensa gratidão por terem dividido parte das suas vidas comigo, deixando um pedacinho de vocês e levando um pedacinho de mim.
E a todos que nesta longa Jornada, caminharam comigo, os que ainda estão nesta dimensão, ou não, meus amigos ou não. São tantos. Perdoem-me os que não citei. Em meus 86 anos de vida, eu não os esqueci. Guardo a todos no meu coração.
Gostaria de terminar dessa forma, pois não consigo mais remexer no que levei anos para esquecer.
Rio de Janeiro, abril de 2023
Dulce Borges Caccavo
Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.
Antoine de Saint-Exupéry
Destaco ainda gratidão à Diretora da Faculdade de Enfermagem, Professora Alaide Bittencourt Duarte e à Professora Terezinha Nobrega, Coordenadora do Curso, aos Professores do Departamento de Nutrição, ao Nutricionista e Professor Carlos Alberto Felício e a todos que vieram, aos poucos, formando o arcabouço em nossa construção, que se esforçavam e carregavam parte do material na continuidade da obra.
1989
Congresso Brasileiro de Nutrição, Blumenau, SC
Da esquerda para a direita, docentes e ex-aluna do INU UERJ:
(1) Dulce Borges Caccavo,
(4) Maria Fátima Menezes,
(5) Vera Lucia Peixoto Chiara,
(6) Emilson Souza Portela e
(7) Sheila Torres Nunes.